PAÍS PRECISA MUDAR RUMOS SE QUISER REVERTER A PERDA DO PODER AQUISITIVO DA POPULAÇÃO
Especialista do Dieese destaca que fim da pobreza só é possível se o Estado assumir um papel ativo na economia.
O Sindados MG realizou nesta terça, dia 5 de abril, uma live com Fernando Duarte, supervisor técnico do Dieese, para debater o tema da "Carestia geral e a perda do poder aquisitivo dos trabalhadores".
O evento apresentou números que comprovam que a situação econômica da população piorou sensivelmente nos últimos anos, como inflação de 10,54% nos últimos doze meses, queda de 8% do rendimento médio do trabalhador no mesmo período, 48% dos reajustes fechados em 2021 com índices abaixo da inflação, além do desemprego de 11,2%.
Para Fernando Duarte, a pandemia deve ser levada em conta na análise da pobreza o país, mas não pode ser culpada por tudo. "Tivemos uma queda acentuada do PIB em 2015 e 2016. Depois disso, a economia começou a crescer na casa de 1% ao ano. Isso é muito pouco para um país que tem crescimento populacional e que possui um contingente de pessoas entrando no mercado de trabalho todos os anos. Para absorver esses trabalhadores, a economia tinha que estar crescendo muito mais. E, para além disso, temos que lembrar que somos um país muito desigual e que convivemos com uma pobreza endêmica. Essa situação não foi causada pela pandemia; a pandemia apenas agravou essa situação", destacou.
Salário mínimo
Muita gente não sabe que o salário mínimo está na Constituição Federal de 1988, no capítulo dos Direitos Sociais, prevendo que ele deve cobrir todas as necessidades do trabalhador e de sua família. Necessidades estas que cobrem não só a alimentação, mas moradia, transporte, lazer, saúde, educação, entre outras. E só quando entendemos esse princípio norteador do salário mínimo é que podemos vislumbrar como a pobreza é uma condição predominante na classe trabalhadora brasileira.
"Quando você pensa num salário mínimo de 1212 reais, um trabalhador sequer consegue comprar duas cestas básicas na cidade de Belo Horizonte [ao custo de 642,01 reais]. E a cesta básica é pensada para suprir as necessidades calóricas de apenas uma pessoa. Então, quando o Dieese estima que o salário mínimo necessário deveria ser de 6012 reais no Brasil, o Dieese não está louco, está falando de um cálculo sobre o que está previsto na Constituição; está propondo um número e uma reflexão importante para a sociedade", analisou Fernando.
A mudança passa pelas mãos do Estado
Mas como mudar esse cenário? Por onde começar? O supervisor técnico do Dieese afirmou que o combate à pobreza não deve ser deixado na mão do mercado, pelo contrário, precisa de uma ação orientada do Estado.
"Nós sabemos que o Brasil é um país que sempre dependeu de uma coordenação do Estado não só para o combate à pobreza, mas para promover o crescimento. No entanto, o que estamos vendo nos últimos anos é uma satanização do Estado, dizendo que ele não deveria se envolver em políticas ativas", pontuou.
Para ele, neste modelo que prega menos estado e mais mercado, a classe trabalhadora terá muita dificuldade de ter aumento real para deixar a pobreza para trás. O mercado não é capaz de promover distribuição de renda; o mercado, no geral, concentra a renda. E apostar em menos estado seria normalizar uma situação de inflação de dois dígitos, desemprego e baixa renda.
"Por isso é que, para enfrentar o momento de carestia que nós vivemos, precisamos repensar o nosso país e os rumos que ele tomou nos últimos anos. As consequências estão claras, os números estão aí. Essa é uma discussão que temos que fazer e que temos que ter clareza enquanto classe trabalhadora", completou Fernando Duarte.
Assista na íntegra
A live desta última terça está disponível no Youtube. Acesse o Canal Sindados MG e assista a essa e todas as outras transmissões já realizadas pelo sindicato, sempre com convidados de relevância para a categoria e para a reflexão sobre o Brasil.